Última atualização: 6 de outubro de 2017
Tempo de leitura: 3 min
A inteligência artificial acabará com a humanidade, ou são os humanos que estão estragando o desenvolvimento tecnológico? Afinal para se ter uma boa análise econômica (social, ou tecnológica) devemos entender que as pessoas são humanas**
Em um curto espaço de tempo ocorreram dois fatos relevantes que aparentemente não apresentam relações diretas entre si: o lançamento do filme “Blade Runner 2049” e o “Prêmio Nobel de Economia 2017” agraciando o norte-americano Richard H. Thaler. Porém, ambos apresentam reflexões sobre os potencias e as limitações dos seres humanos.
Richard Thaler disse numa entrevista à “National Public Radio” algum tempo atrás que: “Eu acredito que, nos últimos 50 a 60 anos, os economistas se dedicaram ao estudo de criaturas fictícias. Eles podiam muito bem ter estudado unicórnios”. Acredito que poucos devem se lembrar de uma cena do filme Blade Runner de 1982, onde Deckard (o ex-policial Rick Deckard, personagem vivido por Harrison Ford) percebe um pequeno origami de unicórnio feito em papel alumínio no chão, que o faz lembrar da frase importante do filme: “É muito ruim que ela não vá viver, mas afinal, quem vai?”, sentenciando a finitude dos homens e dos “replicantes”.
A peça de ligação – o unicórnio – é um animal mitológico que tem a forma de um cavalo, geralmente branco, com um único chifre em espiral. Sua imagem está associada à pureza e à força, mas também é referência para startups tecnológicas que são avaliadas em milhões e milhões de dólares. O unicórnio é desejado tanto pelas virgens quanto pelos investidores.
O estranho disso tudo é presenciarmos o ganhador do Prêmio Nobel, provar por meio da “economia comportamental”, que não sabemos nos comportar em determinados momentos de decisões que envolvem as finanças e as nossas reais necessidades… Coisas que os profissionais de marketing descobriram, talvez apenas por instinto, há mais de cem anos.
Nos dias de hoje não faltam desafios. Sejam eles sociais, econômicos, tecnológicos e existenciais. Vivemos num mundo em transformação. Tudo parece volátil, incerto, complexo e ambíguo. Somos bombardeados por informações falsas, dados incompletos, interpretações ideológicas, e análises duvidosas. O mundo está em ebulição. Não sabemos quando estamos falando com uma pessoa ou com uma inteligência artificial. As grandes massas ao redor do mundo elegem representantes improváveis. A globalização está produzindo ondas separatistas. Oscilamos entre a polarização do ódio e a fragmentação do egoísmo.
Paralelamente a tudo isso, a arte do Jornalismo ou da criação de conteúdo continua sendo, e sempre continuará a ser, essencial para o laboratório das transformações sociais e individuais, mesmo que economicamente esteja sofrendo a falta da real valorização. O paradoxo da isenção e do financiamento nunca esteve tão evidente. Sofremos com as consequências da nossa racionalidade limitada. Não conseguimos fazer cálculos complicados e nem entender textos cifrados. Não somos bons em separar verdades de mentiras. Acreditamos naquilo que nos agrada.
Apesar desta realidade caótica, vejo a beleza da vida e sou otimista. Temos a grande oportunidade de presenciar esse momento histórico da humanidade. Não sabemos de onde viemos, para que estamos aqui e para onde vamos. Somos irracionais e não temos autocontrole, no que se refere a decisões financeiras, escolhas políticas ou na absorção de informação e conhecimento. Mas continuamos transformando a vida. Podendo ser ela humana ou por inteligência artificial.
*Título do romance escrito por Philip K. Dick
**Frase atribuída ao Richard H. Thaler publicada no Jornal “O estado de São Paulo” em 10/10/2017 sem a interferência entre parênteses
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