Latência é a bola da vez

Última atualização: 6 de maio de 2019
Tempo de leitura: 5 min

Não sabemos exatamente o que é, mas dentro em breve não viveremos sem o seu benefício. No dicionário encontraremos algumas definições para o termo latência. É uma palavra cuja origem é o latim; particípio presente neutro plural substantivado de latēre, ou seja, “estar escondido”. Pode ser empregado de diversas formas, como uma condição do que é latente; do que não se manifesta exteriormente; ou carácter do que está oculto ou dissimulado; ou também, a qualidade do que não está ativo, mas pode vir a estar. É um período de desenvolvimento inicial ou embrionário de algo. Na psicologia, é o tempo que decorre entre o começo de um estímulo e a resposta do paciente. Na psicanálise, é período que separa o fim da sexualidade infantil ou pré-genital (7 anos, aproximadamente) do início da puberdade. Na informática, é o período decorrido entre o início de um comando, até a efetiva execução da respectiva operação.

A cada ciclo tecnológico ocorrem mudanças profundas na forma de se comunicar. A comunicação móvel evoluiu muito em algumas décadas. Cada ciclo foi chamado de geração (G). Vários dispositivos e modelos de redes formaram os padrões das telecomunicações. Os sistemas de primeira geração, apareceram na década de 80 sob o nome 1G. A transmissão era analógica e apenas capaz de lidar com o tráfego de voz. A qualidade das conexões era limitada pela qualidade do sinal, o áudio era ruim e sofria interrupções frequentes.

A segunda geração, 2G, marcou um ponto de ruptura com o início da era digital. Ela nasceu na Europa no início dos anos 90. O uso desta tecnologia permitiu os primeiros serviços de transmissão de dados, na forma de curtas mensagens de texto. A terceira geração chegou no início dos anos 2000. Apresentou um padrão internacional, 3G, permitindo a aceleração da transferência de dados. Favoreceu a expansão e aumento da qualidade dos serviços multimídia, como, por exemplo, chamadas de vídeo, e navegação na Internet com acesso às versões desktop de sites diversos. O padrão 4G identifica a geração atual. Lançado em 2010 está finalizando seu ciclo. Essa geração foi capaz de enviar e receber dados a uma velocidade de conexão que pôde competir com a velocidade das conexões domésticas. Apresentou uma cobertura de rede em forte crescimento e aumento do número de dispositivos conectados. Chegaram os smartphones e tablets que navegam e acessam a inúmeros serviços na nuvem, como streaming e videoconferência em alta definição, sem lentidão ou interrupções. Mas tudo isso foi possível graças a um acesso mais rápido e “latência” reduzida alcançada por essas redes.

Até pouco tempo, as operadoras de telefonia móvel vendiam minutos de voz, as tarifas eram precificadas pela distância das chamadas e tínhamos preços menores para ligações dentro da própria rede. Tudo isso ficou para trás. O que interessa agora é a capacidade de dados. E a partir da quinta geração, 5G, iniciada experimentalmente neste ano, em algumas poucas cidades do mundo, é que conheceremos a importância da “latência” (neste caso, o tempo para um pacote de dados ir de um ponto a outro). A latência será vendida como serviço. Todos os setores da economia vão querer latência menor. Será ela quem permitirá a realização de uma cirurgia on-line remota com um robô, a circulação de automóveis autônomos, o real desenvolvimento da IoT (Internet das Coisas), aplicações da inteligência artificial, entre tantas outras promessas tecnológicas.

Muito provavelmente será no 5G que o protagonismo da comunicação entres humanos acabará. Quando falarmos de comunicação, vamos dar maior valor às informações trocadas entre os dispositivos. Serão essas conexões que trarão conforto e segurança à humanidade. Produtos e serviços que nem imaginamos serão lançados. Os modelos de negócios de todos os segmentos serão revistos. O casamento entre informaçGão e poder mudará radicalmente a economia e a sociedade. Como aconteceu já em todas as outras gerações, as transformações serão profundas.

Será a partir do 5G que as Brain-Machine Interfaces (BMIs), ou interfaces cérebro-máquina, ganharão força. Novos dispositivos de conexão entre neurônios e computadores já permitem identificar as intenções das pessoas. Atualmente, as BMIs têm por objetivo ajudar pessoas paralíticas. Porém, é inevitável que alguns visionários de ficção científica pensem no uso dessa tecnologia para aperfeiçoamento, conferindo habilidades “super-humanas” que permitam correr mais rápido e saltar mais alto. Mas, as melhorias só virão quando forem desenvolvidas tecnologias não invasivas, capazes de detectar com precisão as atividades de um único neurônio.

Diferente do que muitos propagam, não iremos humanizar a tecnologia. Esse discurso existe apenas como defesa daqueles que não querem se adaptar a esse novo ciclo. Seremos seres híbridos. Não só em próteses, mas também nos elétrodos. É mudar ou sofrer. Lembro de quando ensinávamos as crianças a terem paciência, e que não fossem ansiosas. Não existia escolha, era uma regra. Hoje queremos o oposto. A latência.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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