Técnicas de confundir

Última atualização: 28 de setembro de 2022
Tempo de leitura: 4 min

Existe uma similaridade entre a comunicação nos dias de hoje, com a criação do ilustrador britânico Martin Handford na série de livros “Onde Está Wally?”. Só que em vez do Wally, procuramos a verdade. Nos livros de Handford, o leitor encontra diversas figuras, fartamente ilustradas, nas quais em algum lugar está escondido Wally e alguns de seus objetos. Wally é um personagem com cara de bobo, que geralmente perde seus pertences, como livros, equipamentos de acampamento ou seus sapatos, em suas viagens. Podemos ficar horas olhando para os desenhos, poluídos propositadamente para nos confundir, até encontrarmos o que procuramos.

Estamos expostos diariamente a um grande volume de informações falsas, criadas com o propósito claro para nos confundir e nos induzir ao erro. Da mesma forma que os cálculos matemáticos, que quase sempre permite apenas um resultado correto, assim são as informações verdadeiras. Todas as outras possibilidades, que são inúmeras, estão erradas. É muito mais fácil e rápido enganar, iludir, misturar, embaralhar e deturpar do que esclarecer, ter veracidade e exatidão nas informações. Os instrumentos de comunicação atuais privilegiam a velocidade e não a realidade.

O cérebro humano é poderoso, mas não é perfeito. Somos influenciados por mensagens subliminares produzidas para nos atingir abaixo do limiar da nossa consciência. Acreditamos nas mensagens que são repetidas inúmeras vezes. Algumas redes sociais usam técnicas para reeducação de pensamento por meio da utilização de frases e sons ritmados, capazes de fazer com que os ouvintes e leitores sejam imersos em atmosferas artificialmente criadas. Não são apenas os algoritmos de distribuição que são assertivos. Nossas mentes é que estão vulneráveis.

A MTV norte-americana foi processada, no final da década de 1990, por veicular algumas vinhetas onde uma série de imagens era mostrada na tela, incluindo fotografias pornográficas de meninas amarradas, em alguns poucos quadros, quase imperceptíveis. A intenção não era vender nenhum produto, mas foi muito útil para manter as pessoas perturbadas e atraídas ao mesmo tempo. Com isso, prolongava-se o tempo que cada espectador passava com o canal sintonizado. Quem garante que os milhares de vídeos veiculados no TikTok não usem a mesma fórmula?

Muitos psicólogos utilizam a técnica de confundir, em terapias ou aconselhamentos, para desbloquear as mentes dos seus pacientes e sugestionar ações reparadoras. Confundir causa um estado interno desagradável e nos motiva a agir de forma diferente. A questão é quando esses artifícios são utilizados de forma descontrolada por pessoas ou instituições que querem manipular o comportamento dos indivíduos e das massas. Será que chegamos a esse ponto de desinformação aleatoriamente ou por mero descuido? Acredito que tudo foi muito bem planejado e está sendo perfeitamente executado.

Um bom diagnóstico nem sempre significa uma cura. Mas é um grande passo. Nós, profissionais que trabalhamos com comunicação, temos a obrigação de alertar, questionar e corrigir alguns excessos que ocorrem ao nosso redor. Muitas vezes utilizam nossas ferramentas e nosso ambiente de trabalho para moldar uma sociedade desestabilizada, a fim de controlar opiniões e engendrar atitudes. Assim como os mágicos e ilusionistas nos encantam com truques e performances inacreditáveis, não podemos ficar paralisados observando admiravelmente os feitos que sabem serem impossíveis na realidade.

Vivemos no mundo dos dados. E assim como os desenhos de Wally, o excesso não nos ajuda a encontrar a verdade e sim nos atrapalha. O grande volume de informações e os múltiplos meios de mensagens complicaram ainda mais um ambiente desacostumado a usar filtros. A escassez de décadas nos fez acreditar que quanto mais fontes de dados, mais fácil seria desenvolver nosso conhecimento e, com isso, nos tornaríamos mais sábios. Ledo engano.

Como fornecedor de serviços de análises e inteligência de mercado, fornecendo uma plataforma que integra dados e informações de diversas fontes, é parte do meu ofício estudar sobre inovação, inteligência artificial, marketing digital, pesquisas de mercado, redes sociais, gestão de marcas e comportamento humano. Converso com profissionais admiráveis e gestores experientes. Sinto que é minha obrigação compartilhar experiências e alertar que não será na contratação de maior volume de dados, notícias e informações a solução os problemas das empresas. Será preciso selecionar melhor para alcançar a assertividade desejada e fugir da confusão generalizada.    

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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