Última atualização: 6 de outubro de 2019
Tempo de leitura: 4 min
Quem não quer uma utopia? Não é exclusividade apenas das crianças e jovens. Todos têm direito a desejos e aspirações, em busca de satisfações materiais, afetivas, espirituais, profissionais. O desenvolvimento tecnológico muitas vezes ocupa esse imaginário coletivo. O sonho de um mundo melhor está cada vez mais próximo, e atualmente já podemos ver muitos benefícios em nosso dia a dia. Afinal, pertencemos à seita universal da Tecnologia Divina.
Porém, muitas vezes as coisas não acontecem da forma como planejamos. E o principal culpado é o próprio ser humano. Ou o lado humano da tecnologia. Utilizamos os novos recursos de forma equivocada.
Na verdade, nunca fomos capacitados para usar os novos produtos e serviços da forma adequada. Quanto maior a dependência digital, maior são os seus efeitos colaterais. Ferramentas planejadas para nos unir, nos polariza. Recursos que deveriam aumentar nosso conhecimento, espalham mentiras.
Ambientes que deveriam favorecer nossa comunicação e integração, nos isola. Vivemos um período de exílio coletivo, por mais paradoxal que isso possa parecer. A solidão na nossa sociedade é crônica.
Tanto é verdade que a solidão foi alçada a problema de saúde pública. A ex-primeira-ministra britânica, Theresa May, criou um ministério só para cuidar do mal que ela define como “a triste realidade da vida moderna”. Na terra da rainha, o isolamento social involuntário atinge 9 milhões de cidadãos, algo em torno de 15% da população.
Desses, um em cada três, afirma que o sentimento de não ter com quem contar está fora de controle. Esse fantasma não afeta apenas os britânicos. Estimativas apontam que uma em cada quatro pessoas no mundo não tem amigos verdadeiros, sente distanciamento da família ou acredita estar desconectada socialmente.
Passamos por tempos turbulentos. Estamos desprotegidos. Sós e afogados em informações. Os estímulos informacionais são tantos, que não sobra tempo para refletir.
Melhor ambiente para uma lavagem cerebral não existe. É por isso que aumentam os posicionamentos radicais e surgem “seitas” oportunistas. Nossas telas, grandes ou pequenas, constituem ótimos dispositivos para mudar atitudes e crenças. Convicções consideradas indesejáveis ou em conflito com as convicções e conhecimentos das outras pessoas produzem angústias e inseguranças.
Aproveitadores (pessoas físicas ou jurídicas) utilizando de métodos agressivos de persuasão, nos “forçam” a ter opiniões que não teríamos se estivéssemos em condições normais.
O termo “seita” é aplicado a grupos que seguem um líder vivo que promove preceitos e práticas novas e não-ortodoxas. É a organização de um grupo contra um ambiente considerado hostil. Cercado em doutrinas, percebe o restante da sociedade de forma distorcida. As seitas desenvolvem argumentos sedutores como forma de dar legitimidade discursiva aos neófitos e manter os que já são seguidores. A saída do grupo pode acarretar diversos efeitos psicossociais em decorrência do sentimento de isolamento. A hostilidade advinda do grupo que se está deixando nos enche de culpa. Sair de uma seita nunca é fácil porque ela exerce controle sobre toda a vida individual e coletiva dos indivíduos. As seitas são agências reguladoras do pensamento e da ação, mas com a diferença de que na seita a regulação tende a ser mais totalizante, devido ao rígido controle que exercem sobre os sujeitos.
O interessante é que a maioria das seitas negam serem seitas. E quem pertence a uma seita não sabe que está em uma. Vamos recordar de Jim Jones, fundador e líder do culto Templo dos Povos, famoso devido ao maior suicídio coletivo que se conhece na civilização moderna, ocorrido em Jonestown.
Ou de Charles Manson, Shoko Asahara, Marshall Applewhite para ficar nos mais famosos e midiáticos. Mas não podemos esquecer de Keith Raniere, fundador da NXIVM uma organização de marketing multinível que foi descrita como uma seita, condenado em 19 de junho deste ano, por crimes federais, incluindo tráfico sexual, conspiração para explorar trabalho forçado, entre tantas outras barbaridades.
Normalmente esses grupos se formam em períodos de transição, onde as pessoas se encontram em estado vulnerável. A promessa de dias melhores é vendida pela tecnologia de forma bastante amigável e acolhedora. Cria-se uma realidade e seus atributos são comunicados de forma repetitiva exaustivamente.
Um líder carismático é personificado representando um único caminho. Todos os que vão contra a linha mestra de pensamento são identificados como inimigos, responsáveis por todos os acontecimentos horríveis e tudo que for negativo. Os mais fracos de pensamento e argumentação abraçam com mais força as regras impostas. E a postura destes “colegas” pressionam àqueles que desejam sair, ou ir contra a cúpula privilegiada de comando. Sim, pertencemos à seita universal da Tecnologia Divina.
Aqueles que discordarem, que desliguem seus celulares imediatamente. Para sempre!
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