Hipocrisia ou obsessão digital ampliada?

Última atualização: 6 de fevereiro de 2018
Tempo de leitura: 4 min

É verdade! Vários distúrbios apareceram por conta do uso compulsivo da tecnologia moderna. Não percebemos, nem paramos para avaliar, mas estamos nos tornando dependentes digitais. Não há ainda um consenso oficial, embora haja já considerável aparato científico embasando a tese de que a obsessão digital induz ao vício do uso. Exatamente como as drogas, o álcool ou o cigarro. A possibilidade de comunicação instantânea, bem como o alcance e velocidade de mensagens, vídeos ou imagens transmitidas a partir de redes sociais e outras plataformas, transformaram nossas vidas, nossos relacionamentos e nossos comportamentos.

Desejamos controlar remotamente nossos amigos, parentes e conhecidos. Tudo o que foi registrado e dito em público pode ser usado contra você. Uma mensagem despretensiosa, uma foto com amigos na sua casa, um brinde ou qualquer outra brincadeira se tornou prova discriminatória para aqueles não presentes se sentirem desprezados ou subjugados. Os ânimos ficam a flor da pele. As ferramentas e facilidades digitais que deveriam unir as pessoas e dar senso de grupo rapidamente passaram a comprometer a convivência.

Nós, seres humanos, somos criaturas sociais. Pensamos que o aumento da comunicação, facilitada pelas mídias sociais, faria todos nós mais felizes e contentes. O oposto é que parece ser verdade. Um estudo da Universidade de Michigan mostrou que o grau de depressão entre jovens, que possuem as características da obsessão digital, corresponde diretamente ao montante de tempo que eles gastam no Facebook, Instagram ou WhatsApp. Uma possível razão é que tendemos a postar, divulgar e registrar apenas as boas notícias sobre nós mesmos: férias, promoções, festas, bolsas de grife, etc. Então é fácil cair na falsa crença de que todos estamos vivendo vidas muito mais felizes e bem-sucedidas. Porém, verificando a fundo, descobrimos que não é nada disso. É um show de falsidades e aparências. Somos geradores de “Fake News” individuais.

Esta obsessão digital também conhecida como Transtorno de Dependência da Internet (TDI), que é o uso excessivo e irracional da Internet, está interferindo na nossa vida cotidiana. Quem primeiro cogitou a ideia desta doença foi o Dr. Ivan Goldberg*, em 1995. Desde então os termos “dependência” e “transtorno” estão deixando de ser controversos na comunidade médica, já que a utilização compulsiva da Internet é vista frequentemente como sintoma de um problema maior, em vez de ser considerada a própria doença. Diagnósticos como depressão, TOC, Transtorno de Déficit de Atenção e ansiedade social são algumas das inúmeras formas de dependência à tecnologia, como o vício de jogos online e jogos de azar, e vício em cibersexo.

Inicialmente nos preocupávamos com as crianças. Hoje esse fenômeno atinge todas as idades. É estranho ver adultos, aparentemente equilibrados, comportando-se de maneira infantil. A hipocrisia contaminou a todos. Pessoas maduras radicalizando em todas as situações. O pior é que essas reações expandiram-se para todos os assuntos, como política, esporte, religião, economia, etc.

A vida moderna trouxe consigo inúmeros avanços e conquistas em todas as áreas do conhecimento humano, esses avanços estão possibilitando melhorar a qualidade e a expectativa de vida para milhões de pessoas. Por outro lado, algumas situações e condições próprias, dessa modernidade estão silenciosamente comprometendo nossa saúde social. Lembrando que revirar-se de um lado para o outro na cama ou ter um friozinho na barriga na véspera de um evento esperado, como uma entrevista de emprego, ou outro encontro importante, é sinal normal de ansiedade. O problema surge quando os sintomas aparecem sem motivo aparente (e são constantes) como medo, inquietação, irritabilidade, taquicardia, falta de ar e aumento da pressão, e vontade de brigar com os amigos pela internet. Estes são sinais de ansiedade patológica. Esta obsessão digital já atinge mais de 30% da população, segundo a Organização Mundial de Saúde, e quatro em cada dez brasileiros, de acordo com o Instituto de Pesquisa e Orientação da Mente (IPOM)**. Infelizmente meus amigos estão com números superiores à média dos brasileiros.

*Psiquiatra nova-iorquino Ivan Goldberg
**O IPOM é uma entidade destinada às pesquisas e estudos sobre o desenvolvimento da mente e suas disfunções.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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