Desconhecimento e dependência

Última atualização: 6 de novembro de 2018
Tempo de leitura: 5 min

Vivemos em uma época singular da história. Nunca o desconhecimento e a dependência estiveram tão próximos como nos dias de hoje. Sinais dos novos tempos. A tecnologia nos coloca em situações, no mínimo, curiosas. Num dia ninguém sabe do que se trata, no outro não há quem viva sem. Trabalho com informações há muitos anos e sempre existiu a neura contra a desatualização. Ninguém quer ficar para trás e todos querem ser informados sobre tudo o mais rápido possível. Porém, a maioria das pessoas se esquecem que atualização é uma coisa e capacidade de reação outra. A questão não discutida é: de que adianta saber se nada pode ser feito?

Por definição a ignorância se refere à falta de conhecimento, sabedoria e instrução sobre determinado tema. Mas também pode ser a crença em elementos amplamente divulgados como falsos. Portanto, essa palavra pode ter dois significados para cada contexto na qual é usada. De um lado temos a escassez, do outro a abundância. Ambos produzindo o mesmo efeito: dependência. A esquizofrenia contemporânea. Perfeito para o momento de polarização que estamos vivendo. O enraizamento do mundo digital, composto por apenas “zeros” ou “uns”. Do moral ou imoral. Do certo ou errado. Do preto ou branco. Aparentemente a sociedades esqueceu as cores, ou pior ainda, os tons de cinza.

Se essa tendência continuar qual será o próximo passo? Acredito que a sobreposição. Teremos que aprender a conviver com os extremos simultâneos. Mas isso é possível? Penso que sim. Vamos lembrar da teoria da mecânica quântica. Um famoso exemplo é o gato de Schrödinger. Uma experiência mental, frequentemente descrita como um paradoxo, desenvolvida pelo físico austríaco Erwin Schrödinger, em 1935. A experiência procura ilustrar quão estranha é a interpretação da mecânica quântica, imaginando-a aplicada a objetos do dia-a-dia. No exemplo, há um gato encerrado em uma caixa, de forma a não estar apenas vivo ou apenas morto, mas sim “morto-vivo”. A esta capacidade de estar simultaneamente em vários estados chama-se superposição. O mais interessante é que já temos computadores quânticos, que simulam esses cenários em vários outros contextos sociais.

O fato é que os computadores tradicionais não conseguem mais analisar e compreender o comportamento social atual. Para entendermos a econômica comportamental necessitamos da ajuda das máquinas quânticas. O computador quântico tem capacidade de processamento 100 milhões de vezes superior ao computador tradicional, no mesmo espaço de tempo. Pode parecer exagero, mas é perfeitamente compreensível se considerarmos que a unidade para armazenamento de um “Bit” do computador tradicional é um transistor feito de silício, basicamente, que por sua vez é formado por bilhões de átomos. A mesma unidade para um computador quântico, o “QuBit”, é formado por apenas 1 átomo!

Esse equipamento não vem apenas para substituir o computador digital. Ele vem complementá-lo em tarefas complexas como as de Inteligência Artificial, algoritmos matemáticos, astronomia e busca de informações em bases de dados gigantes. À medida que a complexidade social cresce, necessitamos de novas ferramentas para acompanhar sua evolução. O estranho de tudo isso, é acreditarmos que as teorias estatísticas do século XIX vão atender nossas expectativas utilizando pesquisas de intenção de voto. Brexit, Trump e Bolsonaro são os exemplos mais atuais que podemos usar. O que será que os estudiosos do século XXII irão falar sobre a história presente do século XXI?

Estamos chegando no período do ano em que muitos especialistas repetem o mesmo ritual. Como será o futuro? Empresas e outras instituições recorrem aos mais diversos métodos para prever o futuro e descobrir o que o próximo ano vai reservar para elas. Uma dependência de que o novo ano será diferente. Dentro da ciência e tecnologia não é muito diferente. A cada ano que passa, cientistas e pesquisadores se arriscam em previsões baseadas em muito estudo e mesmo assim, nem sempre acertam.

O fato é que temos que conviver com a incerteza e diminuir a nossa dependência de informações a todo momento. Neste mundo de sobreposições, de “mortos-vivos”, de superposições, de paradoxos, qualquer que seja o nome, viveremos com uma das sensações que mais abalam o ser humano, que é a ambiguidade dos fatos. Temos que nos conformar que certeza e arrogância tendem a formar uma liga altamente resistente à mudanças, sobretudo as inesperadas. Por mais estranho que possa parecer, um grupo de cientistas da Universidade de Durham, na Inglaterra, publicou recentemente um relatório que fala sobre a possível existência de universos paralelos. Eles estudavam o “Ponto Frio”, uma área imensa do Universo a 500 milhões de anos-luz da Terra. As temperaturas extraordinariamente baixas e a pequena densidade de matéria registrada poderiam ter sido causadas, segundo eles, pela colisão de nosso Universo contra uma “bolha” de outro Universo. Se confirmada essa teoria, estaríamos diante da primeira evidência científica da existência do multiverso: vários universos formados depois do Big Bang e fora do espaço-tempo. Fato desconhecido hoje pela maioria das pessoas? Amanhã provavelmente não conseguiremos viver sem… Necessito imediatamente o meu mundo paralelo!

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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