A influência dos desejos e sentimentos e a razão imperfeita

Última atualização: 6 de setembro de 2018
Tempo de leitura: 4 min

Onde exatamente a influência dos desejos e sentimentos e a razão imperfeita se conectam? Vou explicar…

Atualmente vivemos um período de grandes transformações. A narrativa liberal está sofrendo questionamentos. O trabalho humano oscila entre a exploração e a irrelevância. A inteligência artificial compete com a estupidez natural. A tecnologia contribui para aumentar as diferenças sociais. Dividimo-nos entre os prazeres virtuais e a crueldade analógica. Guerras locais produzem imigrações mundiais. A argumentação terrorista destrói a paz da privacidade. Os grandes números provam que sabemos menos do que pensamos. Os fatos precisam de comprovações e as mentiras são aceitas sem esforços. Enfim, tudo parece estar misturado, fragmentado e sobreposto, em um ambiente social doente, guiado por influência e sem um diagnóstico coerente.

Neste cenário confuso, como receberíamos novas teorias? Vivemos uma escassez de líderes e pensadores? Os grandes gurus desapareceram? Em um passado relativamente recente, no fim do século XIX, Sigmund Freud, em suas teorias, afirmava que os pensamentos humanos são desenvolvidos por processos diferenciados, relacionando tal ideia à de que o nosso cérebro trabalha essencialmente no campo da semântica, isto é, a mente desenvolve os pensamentos num sistema intrincado de linguagem baseada em imagens, as quais são meras representações de significados latentes. Seus pensamentos, suas afirmações e estudos foram controversos na época e continuam a ser debatidos até hoje.

Nas suas principais obras, como “A Interpretação dos Sonhos”, “A Psicopatologia da Vida Cotidiana” e “Os Chistes e suas Relações com o Inconsciente”, Freud não só desenvolveu sua teoria sobre o inconsciente da mente humana, como articulou o conteúdo do inconsciente ao ato da fala e aos atos falhos. Para Freud, a consciência humana subdivide-se em três níveis: Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente. Confesso ter ouvido várias vezes sobre os níveis de consciência que formam a mente humana, ou seja, o “Id” (inato e instintivo), o “Ego” (planejado e pragmático), o “Superego” (sentimento de culpa) e o “Alter Ego” (identidade oculta). Mas até pouco tempo atrás não sabia diferenciá-los.

Resgato essas informações e reflexões freudianas em um momento específico, da imagem recente de um aparente incauto esfaqueando a barriga de um candidato à presidência, em praça pública, registrado por dezenas de testemunhas tecnologicamente aparelhadas para a imortalização do ato. Cena apropriada e justa para um discurso polêmico, invocando a natureza mais humana do eleitorado. Nada mais primitivo do que a agressão com um objeto perfurante rudimentar para mostrar a fragilidade da vida e a efemeridade do poder.

O paralelo que faço é sobre o inconsciente coletivo do prazer de ver e rever a trágica cena. Um desejo instintivo sem juízo de valor (Id) de acompanhar os detalhes mórbidos, independente do alinhamento ideológico ou não. Sai a figura de um representante partidário e entra o ser humano, misturado com a necessidade básica da procura pelo sangue. Passado o impacto inicial, a análise profunda do planejamento realista e organizado (Ego) do ato. Até que ponto estamos preparados para lidar com a intolerância alheia? É certo fazer avaliações e justiça com as próprias mãos? Passa-se o tempo e exigimos a punição (Superego). O culpado não pode sair ileso, pois a ação socialmente inapropriada determina a condenação, independentemente do julgamento.

Porém, o papel principal ficou para o Alter Ego. Termo muito em voga no jargão psicanalítico no passado, mas que quase desapareceu. Aparece sempre no significado da duplicidade do sujeito, ou no seu comportamento secreto. A outra personalidade que acompanha todos nós. A importância na prática analítica do conceito de que muitas pessoas podem permanecer a vida inteira aparentando serem o que não são guiados, por vezes, pela influência. Ao longo do tempo, deposita-se toda a confiança até que as verdadeiras intenções venham à tona. Os papéis se cruzam. O vilão vira herói e o herói é o vilão.

No estágio atual das discussões sobre o processo eleitoral brasileiro deste ano, não existe, e talvez nunca venha a existir, um consenso. Sobram desejos ocultos e sentimentos confusos. A polarização das opiniões, muito por influência, coloca em posições extremas os candidatos mais suscetíveis ao apelo das proposições futuras, desapaixonadamente da veracidade de suas propostas. Não há argumentos definitivos em nenhum dos lados, embora a posição mais interessante pareça ser uma que evite o dogmatismo e esteja aberto ao diálogo com ambos. Não para se permanecer num cômodo lugar em cima do muro, mas para absorver o que há de produtivo nos pontos não-conflitantes das diversas posturas. Só condeno os falsos profetas, intitulados algumas vezes de pesquisas de intenção de votos. Dados que contaminam, enviesam e envenenam ainda mais os indecisos. Afinal, se o ser humano decidisse baseado em informações de pesquisas e dados científicos, não existiriam fumantes, obesos e drogados. Nestes casos, nem Freud explica.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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